*Milton Lourenço
SÃO PAULO – Quem conhece a História pátria sabe que hoje o Brasil sofre as consequências de uma opção equivocada tomada à época em que o País vivia a euforia do período democrático, ou seja, ao tempo do governo de Juscelino Kubitschek (1902-1976), que decorreu entre 1956 e 1961. Pressionado pelos interesses da indústria automobilística norte-americana, Kubitschek entendeu que, como ao tempo de Washington Luís (1869-1957), “governar seria abrir estradas”, optando por um único modal de transporte, o rodoviário.
De fato, abrir estradas era necessário, mas não seria a única opção de desenvolvimento. Mesmo assim, gerações de maus administradores públicos, durante o regime militar (1964-1985) e o novo período democrático que se seguiu, assistiram impassíveis ao sucateamento de linhas férreas, de portos e aeroportos e, por fim, do próprio modal rodoviário, que para escapar do caos total teve de ser privatizado a um alto custo para a sociedade, como bem sabe quem é explorado pela sucessiva cobrança de pedágios nas rodovias brasileiras.
Tivesse o País homens públicos mais compromissados com os interesses da população, a cobrança de pedágio só se justificaria se houvesse uma redução ou extinção de tributos, como o imposto sobre a propriedade de veículos automotores (IPVA). É o que se vê, por exemplo, na Suíça, onde não há cabines de pedágio em suas estradas bem cuidadas, bastando ao proprietário do veículo pagar uma taxa anual, a vignette (adesivo).
A consequência daquela opção equivocada é que hoje o preço do transporte rodoviário para Santos é de 25 a 40% mais caro do que para outros portos, que o importador/exportador tem de suportar porque aquele complexo portuário é o mais bem equipado do País, responsável por 27% do nosso comércio exterior. Para piorar, a demora para a liberação de um contêiner com produtos primários ou industrializados no porto de Santos, apesar dos avanços da informática, ainda está longe da média registrada em Roterdã, que é de dois dias.
Para reduzir esses custos, há necessidade de se buscar cada vez mais soluções intermodais, com a utilização maior de ferrovias, do sistema hidroviário e da cabotagem. Para se ter uma ideia, o uso de ferrovias barateia em média 20% o custo do transporte. Já a cabotagem pode ser até 25% mais em conta que o modal rodoviário. Mas, por falta de infraestrutura, essas opções são hoje subutilizadas: o aéreo representa 5,8% no transporte de cargas, o ferroviário, 5,4%, e o hidroviário, 0,7%, conforme estudo da Fundação Dom Cabral. Obviamente, essas opções não invalidam o modal rodoviário, que hoje é a opção preferida por 76% das empresas. E continuará a ser de grande importância para a logística do País, desde que integrado em soluções intermodais.
Mas isso só será obtido com investimentos pesados na construção e modernização de ferrovias, de acessos a portos e aeroportos e de rodovias e com a ampliação da utilização dos sistemas hidroviário e de cabotagem, o que vem sendo adiado ano a ano por sucessivos governos. E, no governo que se inicia dia 1º de janeiro de 2019, tudo indica que não será diferente.
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(*) Milton Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística (ACTC).
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