Por Milton Lourenço
A declaração conjunta que os países do Mercosul e da Aliança do Pacífico (México, Colômbia, Chile e Peru) fizeram em defesa da integração dos dois blocos é, depois de muitos anos, uma notícia alvissareira para quem defende o multilateralismo e preocupa-se com a proliferação do protecionismo no planeta. Essa integração, aliás, vem a um tempo em que o resto do mundo parece caminhar em sentido contrário, como mostram a guerra comercial entre EUA e China, a saída do Reino Unido da União Europeia (o chamado Brexit) e a p ossibilidade iminente de que haja uma revisão do Tratado Norte-Americano de Livre-Comércio (Nafta), que reúne EUA, Canadá e México e tem o Chile como associado.
É de se lembrar que Mercosul e Aliança do Pacífico reunidos representam 90% do Produto Interno Bruto (PIB) e 80% da população da América Latina. E que, se esse acordo sair do papel, haverá uma drástica redução de barreiras alfandegárias, o que facilitará sobremaneira o crescimento do comércio, serviços e investimentos na região. Para o Brasil, essa perspectiva é extremamente alentadora porque a proximidade física com os demais países estimula a exportação, tornando o nosso produto industrializado ma is competitivo, já que diminuem as despesas com transporte, como mostra o fato de a Argentina constituir o maior mercado para os manufaturados brasileiros.
Terceiro principal importador do Brasil, a Argentina, em 2017, aumentou em 31,3% as suas compras, para US$ 17,6 bilhões, com destaque para automóveis de passageiros (+42%, para US$ 4,7 bilhões) e veículos de carga (+53%, a US$ 1,8 bilhões), segundo dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC). Obviamente, se as reformas pretendidas pelo presidente argentino Mauricio Macri alcançarem êxito, o potencial de crescimento econômico do país tende a aumentar, o que deve beneficiar as exportações brasileiras para a nação vizinha. Ao mesmo tempo, os obstáculos protecionistas que o governo norte-americano tem colocado ao comércio com China, Alemanha e México podem abrir oportunidades para os produtos industrializados do Brasil.
Como se sabe, os países do Mercosul já têm acordos de livre-comércio, individuais e em bloco, com três países da Aliança do Pacífico (Peru, Colômbia e Chile), restando apenas um aprofundamento dos negócios com o México, que está preocupado com a revisão do Nafta, talvez para diminuir a sua dependência em relação aos EUA, que hoje ficam com 80% das exportações mexicanas.
Em 2017, o comércio bilateral entre Brasil e México ficou em US$ 8,5 bilhões, abaixo do recorde de 2012, quando chegou a US$ 10 bilhões. As trocas estão concentradas em automóveis, autopeças, produtos químicos e carne de frango. Se o acordo Mercosul-Aliança do Pacífico for assinado, em poucos anos, essa corrente de comércio poderá duplicar e até triplicar, pois, com certeza, incluirá o abrandamento das barreiras não tarifárias e melhor funcionamento das certificações digitais e fitossanitárias.
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