O agronegócio brasileiro é altamente competitivo mundialmente por diversos motivos, entre os quais, o uso da tecnologia em toda a cadeia produtiva, as questões naturais, com solo fértil, clima favorável e água em abundância, a estrutura de financiamento que possibilita o crédito para todos os produtores, e principalmente, as pessoas que trabalham para o segmento no Brasil, que buscam atender as demandas por alimento no país e no mundo. Mas, para manter essa competitividade, o agro precisa mostrar para as sociedades globais que a sustentabilidade ambiental é prioridade no setor, assim como sua capacidade de garantir a segurança alimentar e do próprio alimento.
Essa foi uma das conclusões do Congresso Brasileiro do Agronegócio (CBA), um dos eventos mais relevantes do universo do agro nacional, que aconteceu nesta segunda-feira, dia 3 de agosto, em formato totalmente virtual, e reuniu mais de 8000 participantes que puderam acompanhar importantes debates para o desenvolvimento do agro no país. O tema central do encontro promovido pela Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG) e pela B3, a bolsa do Brasil, foi Lições para o Futuro.
Marcello Brito, presidente do Conselho Diretor da ABAG, afirmou em seu discurso na solenidade de abertura que o período pós-Covid 19 já mostra os sinais de uma realidade que priorizará a saúde, a sanidade e a sustentabilidade. “Também na esteira da saúde a luta contra a poluição, que em síntese tende a acelerar no mundo a economia verde, de baixo carbono na lógica da economia circular. Isso abre ao Brasil e ao mundo portas oportunas de um novo paradigma de desenvolvimento, numa visão moderna e socialmente mais justa e integrativa”.
A ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, ressaltou que o Brasil é uma potência no agro, mas também na área ambiental, porque consegue desenvolver e preservar de forma constante e contínua. “Estamos batendo recordes nas safras de grãos, melhorando nossa pecuária, diversificando nossos produtos, ao mesmo tempo, diminuindo o uso da terra e aumentando a produtividade”, disse. Ela ainda acrescentou a importância da tecnologia desenvolvida no país, a partir da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), que é voltada para o solo e o clima tropical do país. E, isso contribui para o abastecimento de mais de 200 países e a abertura apenas neste ano de 70 mercados.
“Teremos um mundo mais exigente em sanidade, em sustentabilidade. Assim, temos que exercitar a sustentabilidade, aquilo que sabemos fazer. Por isso, neste ano, quando estávamos construindo o Plano Safra, fizemos a questão de inserir recursos para os diversos programas que priorizam a sustentabilidade”.
O ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, atual coordenador do GVagro da FGV, resumiu o debate do Congresso Brasileiro do Agronegócio, afirmando que a pandemia agilizou o processo tecnológico e científico, visto pela maior conectividade e digitalização. “O evento convergiu para dois temas centrais: a segurança alimentar e do alimento e a sustentabilidade”, disse.
No caso do primeiro tema, o mundo vai proteger a agricultura, podendo criar mecanismos de protecionismo que podem perturbar o comércio global. “Precisamos ficar atentos”, ressaltou. Já o segundo aspecto, Rodrigues avaliou a importância de eliminar a divisão entre produtores e ambientalistas. “O Código Florestal é fundamental para todos nós. Ele não prejudicou nem auxiliou excessivamente nenhum dos dois lados.
Precisamos acabar com essa diferença, por meio da ciência, tecnologia, racionalidade e política. O Brasil tem potencial agrícola e ambiental e elas precisam estar unidas, serem únicas, caminhando nessa direção. Ou seja, garantindo a segurança alimentar com sustentabilidade”.
O ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, reforçou na solenidade de abertura do Congresso Brasileiro do Agronegócio as ações da pasta para melhorar a infraestrutura, possibilitando uma melhor e maior escoamento da safra. Entre as iniciativas estão: o aumento da oferta ferroviária, com investimentos de R$ 40 bilhões nos próximos anos, objetivando dobrar a matriz. A desestatização de portos para aumentar a capacidade portuária e melhorar o embarque dos produtos; e a ampliação da pavimentação de rodovias nacionais. Todas as essas ações, segundo o ministro, vão permitir, por exemplo, ter uma repercussão no frete pago pelo setor. Em média, neste ano, houve uma queda de 13% no custo do frete.
Já o CEO da B3, Gilson Finkelsztain, falou sobre o momento ímpar vivenciado pela estabilidade econômica, manutenção da inflação sob controle e dos juros baixos. A B3 tem a missão de desenvolver o mercado e a economia, oferecendo ferramentas de gestão de risco e de crédito. “Assim, estamos levando o setor financeiro para o campo. Continuamos dedicados em ampliar o setor no mercado financeiro para que ele reflita de fato o agro nacional”, disse o CEO, que comentou sobre o trabalho que está sendo realizado pela B3 para o lançamento de um contrato de soja futuro, que será acessível ao produtor rural, cooperativas e traders globais. A abertura do evento também contou com os pronunciamentos do secretário da Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Gustavo Junqueira, do deputado Federal e do presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, Alceu Moreira.
ABAG neutraliza emissões de gases de efeito estufa
Durante a abertura do Congresso Brasileiro do Agronegócio, Marcello Brito ainda anunciou que a ABAG é a primeira associação do agronegócio em nível mundial a neutralizar todas as suas emissões de gases de efeito estufa em 2019. Essa ação inédita, pioneira e inovadora foi possível devido ao novo ativo ambiental do agronegócio brasileiro, os CBios, créditos de descarbonização criados em nossa Política Nacional de Biocombustíveis (Renovabio).
A neutralização das emissões da ABAG foi feita pela Block C, um ecossistema de gestão e rastreabilidade de emissões baseado em tecnologia Blockchain. “Não se trata apenas de fazer o cálculo, auditar as informações, e adquirir os créditos. Nesta empreitada, a Block C e a ABAG contaram com “vontade boa” de demonstrar esta inovação por todos os atores na cadeia. A SGS na auditoria, a StoneX na estruturação, a B3, nossa parceira nesse congresso, no registro do ativo”, disse Brito. Foram comprados e retirados de circulação 55 CBios (cada um equivalente a 1 tonelada de carbono de emissão evitada com a substituição de combustíveis fósseis por renováveis). O preço médio ficou em R$ 22.
Para ele, este é, sem dúvida, um exemplo de empresas e setores que estão comprometidos com o agronegócio de impacto positivo e contribuindo para a sociedade. “Esperamos que esse pequeno gesto econômico, seja um gesto gigante no exemplo e na disseminação de ações mitigadoras das mudanças climáticas e um novo mercado para os CBIOs. Essa ação somente acontece quando se reúne protagonismo, legalidade e ciência”, concluiu.
Lições para o futuro
No painel O Agro e A Nova Dinâmica Econômica, Social e Ambiental do Congresso Brasileiro do Agronegócio, Celso Luiz Moretti, presidente da EMBRAPA, trouxe tendências para o futuro do agronegócio, como a presença da digitalização e da conectividade no campo, a bieconomia, a edição genômica das plantas, os sistemas integrados, com destaque ao iLPF (Integração-Lavoura-Pecuária e Floresta), sanidade e segurança do alimento e a sustentabilidade dos sistemas produtivos.
Para José Roberto Mendonça de Barros, sócio diretor da MB Associados, o pós-pandemia acentuará tendências que já eram perceptíveis. “O que garante o sucesso do agro é o desenvolvimento tecnológico e sustentável.
Para aumentar a produção, por exemplo, não é necessário queimar nenhum hectare de terra. O que foi dito pelo presidente da Embrapa sobre as tendências mostra que o Brasil está alinhado a uma agenda mundial. O agro brasileiro é o mais competitivo do mundo sem subsídio. O que inaceitável é o que vem acontecendo com a Amazônia. É preciso ter zero leniência com o que é ilegal. Não pode haver desmate ilegal”.
Nesse sentido, André Guimarães, diretor Executivo do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia IPAM e facilitador da Coalizão Brasil, Clima, Florestas e Agricultura, afirmou que é preciso reconstruir a reputação brasileira, mostrando ao mundo que todos os setores estão unidos – produtor rural, ambientalista, governo, academia e setor privado. Para isso, é preciso explicar que o meio ambiente não é externalidade para o agro, mas um aspecto intrínseco para o setor. Com isso, será possível atrair investimento para produzir ainda mais com tecnologia e sustentabilidade.
Segundo ele, o meio ambiente precisar ser considerado um ativo, que a preservação da Amazônia é um investimento. Para isso, a ciência precisar trabalhar mais fortemente para entender a dimensão da implicação climática em nível regional e assim mostrar, por exemplo, como a chuva que a Amazônia produz impacto o cerrado. “Temos que buscar o lado da harmonização, da produção e da conservação ambiental do Brasil para adquirir a reputação perdida e pavimentar o futuro da agricultura.
Precisaremos de tecnologia, de muita floresta e de serviços ambientais”.
Luiz Felipe Pondé, filósofo e colunista da Folha de São Paulo, concordou com a visão de Guimarães sobre o meio ambiente como um ativo e como a temática relacionada à sustentabilidade ambiental precisa se impor. Ele ponderou que é preciso usar a ciência justamente nesse caso, ou seja, de tornar mais claro o entendimento de que o meio ambiente é importante e precisa ser visto como um ativo.
Humanizar o agro
Para trazer essa mudança na reputação do agronegócio, mostrar ao mundo quem faz o agronegócio brasileiro é imprescindível. O Embaixador do Brasil junto à União Europeia, Marcos Galvão, enfatizou em seu depoimento no painel O Agro Brasileiro e a Crise Global que, além das três questões apontadas como prioridade pela presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde: centralidade da questão ambiental e do clima, a digitalização da economia e no dia a dia das pessoas e a valorização da proximidade, é preciso colocar as pessoas no foco. “Não há problema em ter imagens de colheitadeiras automatizadas no campo, mas é preciso traduzir os dados e os fatos em cenas com pessoas. Precisamos humanizar e singularizar nossa agricultura, mostrar ao mundo os trabalhadores do agro brasileiro”, disse. “Como o segmento é sustentável também socialmente, devemos apresentar suas escolas, creches, hospitais, a riqueza produzida no campo que impacta as pessoas. Coloquemos as pessoas, suas necessidades, preocupações e inspirações, em primeiro lugar”.
Em concordância com a avaliação de Galvão, Paulo Sousa, presidente da Cargill no Brasil, disse que é preciso mostrar as pessoas e sua comunidade, que são as produtoras dos alimentos com segurança alimentar e sustentabilidade. Ele acrescentou que o papel das companhias envolvidas no fluxo global dos alimentos é, antes de qualquer coisa, fazer o elo entre esse consumidor e produtor. “O consumidor é sensível a esse lado social. Por isso, podemos mostrar esse lado humano, o contato com a natureza, o bem-estar social, permitindo que as comunidades conheçam o agro nacional”.
Para Márcio Lopes de Freitas, presidente do Sistema OCB e, o consumidor é o soberano do mercado. “A humanidade quer mudanças, quer que o comportamento do produtor rural esteja em acordo com suas demandas.
Por isso, as empresas cooperativas devem sempre ter o foco no consumidor, afinal o produtor não é de commodities ou de valor agregado, é um produtor de alimentos para humanidade. A cooperativa é uma forma de organização que se baseia na confiança das pessoas. Assim, precisamos transferir essa confiança para sociedade global”. Além disso, ele comentou que as cooperativas trabalham de forma a passar ao produtor as mais modernas tecnologias sustentáveis, atendendo, desse modo, a exigência de rastreabilidade no processo de produção dos alimentos.
Na avaliação de Grazielle Parenti, presidente do Conselho Diretor da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (ABIA), pelo mundo estar interligado, as concepções que são vistas no mundo já permeiam o Brasil, como é o caso da sustentabilidade. Ela analisou que o país é muito competitivo no agronegócio no exterior por sua qualidade, além da rigorosa legislação brasileira e do sistema de compliance das indústrias. Por fim, ela ressaltou que o agro organizado não tem nada a ver com a criminalidade e a ilegalidade e que o segmento está gerando empregos e riqueza para todo o povo brasileiro.
Financiamento e seguro rural
A pujança do agronegócio depende também de um mercado financeiro, de crédito e de seguro que sustente o crescimento constante apresentado pelo setor. Por isso, o Congresso Brasileiro do Agronegócio contou com o painel Mercado Financeiro, Seguro e Crédito Rural, que teve como debatedores Fábio Zenaro, diretor de Produtos Balcão, Commodities e Novos Negócios da B3, Ivandré Montiel da Silva, CEO da BrasilSeg e Pedro Fernandes, diretor de Agronegócio do Itaú BBA.
Em depoimento, Roberto Campos Neto, Presidente do Banco Central do Brasil, comentou a importância do agronegócio para o Brasil e como seu desempenho tem gerado grandes negócios, contribuindo para as exportações e para o PIB nacionais. Em relação ao crédito rural, ele comentou sobre o trabalho que tem sido promovido pelo mercado financeiro para avançar nos modelos de financiamento disponíveis para o produtor rural. Ele citou as duas Resoluções (4801 e 4802), que autorizam a prorrogação de financiamentos rurais em algumas linhas de crédito e que criaram, por exemplo, uma linha de custeio para amparo do Pronamp e Pronaf e a Lei do Agro, que moderniza as bases legais do crédito para o agronegócio. Ademais, ele também comentou sobre a consolidação, a partir do dia 1º de julho, da contratação simplificada de crédito rural, por meio eletrônico.
Fernandes ressaltou que o financiamento da agricultura precisa ser dividido em dois grandes blocos. Um está relacionado ao pequeno e médio produtor, que demandam a subvenção do governo federal. Desse modo, o Plano Safra tem papel importante como indutor das práticas financiamento e práticas agrícolas. O outro é a agricultura empresarial, acima do Pronamp, cujo crédito virá de um ambiente controlado para financiar a agricultura, construído pelo Banco Central, pelos bancos e pelo MAPA.
Ele ainda comentou sobre a mudança relevante que está ocorrendo no mercado agro, que está saindo de um modelo de crédito obrigatório para um modelo de crédito livre. Ou seja, isso significa que o produtor precisa construir seu histórico de bancabilidade, mostrando que seu negócio terá um retorno. “O mundo de ir ao banco, se enquadrar em um modelo e preencher os papéis está acabando”, disse. No Paraguai, por exemplo, se o produtor rural tem uma dívida de US$ 300 mil, ele precisa apresentar balanço e um fluxo de caixa. “Nesse ponto, o Brasil está bastante atrasado”.
Na questão do seguro, Silva ressaltou que o agronegócio tem um novo pilar, que é o mitigador de risco. “Os seguros rurais protegem o produtor contra intempéries ou protegem contra preço e têm sido trazidos para o centro da política agrícola”, disse. O Plano Safra 2020/2021 contará com R$ 236,3 bilhões em recursos, com destaque para os R$ 1,3 bilhão do Seguro Rural. No Plano Safra anterior esse valor era de R$ 950 milhões.
De acordo com ele, existe uma nova percepção do produtor ante ao seguro rural. Nos últimos cinco meses deste ano, o seguro voluntário cresceu 40%.
Além disso, a expectativa é que neste ano o mercado brasileiro tenha cerca de 15 milhões de hectares protegidos pelo seguro. Outro dado apresentado por Silva foi que somando os montantes deste ano e do ano passado, as seguradoras pagaram R$ 3,6 bilhões em sinistros.
Conforme explicou Zenaro, o agronegócio na crise atual se destacou e isso foi refletido nos mercados de capitais. Neste ano, o CRA (Certificado de Recebíveis do Agronegócio) teve até o mês de julho R$ 8 bilhões emitidos e seu pipeline é crescente, com a expectativa de estoque de R$ 50 bilhões a R$ 60 bilhões. Ele destacou ainda a modernização regulatória do CPR (Cédula de Produto Rural) que trará ainda mais segurança ao processo. “O mercado de capitais para o agro é uma ferramenta importante”.
Outra questão trazida por Zenaro foi as discussões sobre os green bonds, instrumentos de dívida emitidos por empresas, governos e entidades multilaterais negociados nos mercados de capitais com a finalidade de atrair capital para projetos com finalidade socioambiental. “Alguns investidores estão afirmando que só investirão em ações que tiverem esse selo. É preciso estar muito atento a essa questão e entender os benefícios de emitir um título green”.
No caso das fintechs, os três debatedores acreditam que elas são importantes e trazem uma nova dinâmica ao mercado e, também, oportunidades.
Para conferir a íntegra do Congresso Brasileiro do Agronegócio, basta acessar o Canal da ABAG no YouTube.
Assessoria de Imprensa
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Fonte: cargonews.com.br