Por Patrícia Varejão, Dezan Shira & Associates, escritório de relações do Brasil
Em cerca de dez anos, a Índia será tão importante para o Brasil quanto a China é hoje. Isso ocorre porque o país do sul da Ásia é um grande consumidor de produtos agrícolas e o Brasil é um dos principais produtores do mundo. Soma-se a isso o fato de a renda per capita na Índia ter aumentado e o país ter uma população enorme. A tendência é que as duas regiões fortaleçam ainda mais seus laços econômicos.
A renda per capita dos indianos cresceu 4,2% em 2019 e há sinais de que o crescimento – apesar do COVID-19 em 2020 – continuará a aumentar. Todas as principais tendências indicam um aumento contínuo na próxima década e, durante esse período, a Índia se tornará cada vez mais importante como parceira comercial do Brasil. No início do ano, o governo brasileiro se comprometeu a dobrar o comércio bilateral até 2022. Estudos indicam que essa demanda pode ser sustentada por mais de 30 anos.
A Índia, além de ter uma área enorme, também é muito grande em termos de população e tem um potencial de crescimento econômico significativo, assim como seu vizinho, a China. É também um país jovem, enquanto a China está envelhecendo. A conseqüência disso é que a Índia demonstrará um poder de compra cada vez maior; o consumo de alimentos também aumentará à medida que o país progride e o poder de compra de sua classe média aumenta.
O fenômeno do que está acontecendo hoje na Índia é o mesmo que ocorreu na China no início dos anos 90. A China, inicialmente um parceiro comercial marginal, tornou-se o principal destino das exportações brasileiras. De acordo com o potencial indiano, algo semelhante deve acontecer – a Índia pode muito bem se tornar um dos principais consumidores de commodities agrícolas brasileiras, como soja, açúcar e café, entre outros.
A Índia ainda não importa soja do Brasil. As principais importações brasileiras da Índia são petróleo, ouro não monetário, gorduras, óleos vegetais, açúcares, algodão e madeira crua. À medida que o poder de compra da população melhorar, mudanças nos padrões de consumo serão inevitáveis e a Índia poderá se tornar um importante comprador de soja do Brasil, assim como aconteceu com a China.
Devido a crenças religiosas, os indianos não consomem grandes quantidades de carne. O baixo consumo desse produto no mercado levou a população a compensar essas necessidades proteicas comendo grão de bico, ervilha e lentilha etc. O Brasil pode se apresentar como um grande exportador desses produtos. Vale ressaltar que a Índia é o maior produtor mundial de pulses, com uma produção de 19 milhões de toneladas (Mt), mas consome 21 Mt, com propensão a aumentar, indicando a necessidade de importar tais produtos também.
À medida que a classe média aumenta de tamanho, será automaticamente necessário que o país fabrique mais ou aumente a importação de mais consumíveis – isso representa um ponto positivo para o Brasil, o quarto maior produtor de alimentos do mundo.
O caminho da Índia em direção ao desenvolvimento sustentável e prolongado levará ao crescimento de demandas semelhantes à experiência chinesa; é por isso que o país está se tornando um parceiro comercial prioritário do Brasil. Isso começou a se mostrar em 2017, quando, pela primeira vez, o percentual do crescimento do PIB indiano excedeu o da China.
A economia da Índia é a sétima maior do mundo em PIB e deve ser a terceira maior em 2030, alcançando o segundo lugar em 2050, representando 15% do PIB mundial.
Índia e Mercosul
O Mercosul é a área de livre comércio que inclui Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. É também o único acordo comercial que a Índia possui atualmente com um membro do grupo BRICS (o bloco contém Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul).
Embora o acordo de comércio preferencial (ACP) entre a Índia e Mercosul esteja atualmente limitado a apenas 450 produtos, os dois lados optaram por aumentar estas limitações e estão atualmente negociando acesso preferencial para cerca de 3.000 itens.
A Índia quer exportar alimentos processados, mais produtos de engenharia e uma gama mais ampla de produtos farmacêuticos para o Mercosul. Nessas circunstâncias, o ACP Índia-Mercosul pode ser considerado um sucesso.
Em termos de produtos reais, de acordo com o contrato existente assinado em 2009, a Índia reduziu impostos na faixa de 10% a 100% em 452 itens. Isso inclui produtos à base de carne, produtos químicos, couros e peles em bruto, artigos de couro, lã, fio de algodão, vidro, ferro e aço, máquinas e equipamentos, aparelhos ópticos, fotográficos e cinematográficos.
A Índia tem acesso preferencial no Mercosul a produtos químicos orgânicos, produtos farmacêuticos, óleos essenciais, plásticos e artigos, borracha e produtos derivados da borracha, ferramentas e implementos, itens de máquinas e equipamentos elétricos.
A vantagem do Mercosul para a Índia e, principalmente, de suas conexões comerciais ricas e de interesse próprio, é que o bloco do Mercosul está geograficamente bem distante e é improvável que represente grande ameaça para as empresas domésticas no mercado indiano. Os exportadores brasileiros devem procurar tirar proveito disso e examinar a adequação do mercado indiano às exportações brasileiras.
Em resumo, os exportadores brasileiros têm excelentes oportunidades para aumentar sua produção, pois possuem inúmeras opções adequadas para atender às exigências dos consumidores da Índia.
Assessoria de Imprensa
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Fonte: cargonews.com.br