Por Charlie Conner, Presidente da Sotran Logística*
Em meio a uma pandemia que tem tirado milhares de vidas, renda e emprego das pessoas, além do fechamento de inúmeros negócios, o cenário para o agronegócio brasileiro é bastante promissor. O setor vive uma conjunção de ventos favoráveis, dentro e fora do país, que permite otimismo. Os dados do PIB do primeiro semestre comprovam: em meio à queda de 5,9% na comparação com o mesmo período do ano passado, o agro foi o único a registrar alta (1,6%). Essa alta é puxada por exportações recordes, como a de soja, que chegou a 70,7 milhões de toneladas de janeiro a julho – um aumento de quase 40%, em 2020, na comparação com o mesmo período do ano passado. Mas, ao invés de apenas aproveitar e surfar essa onda, os atores dessa cadeia precisam se unir na resolução de inúmeros problemas estruturais que há décadas tiram competitividade do agronegócio. O momento também é favorável a isso.
O campo brasileiro viu sua produtividade aumentar de forma expressiva nas últimas décadas. Isso ocorreu, em grande parte, graças a avanços em pesquisa e inovações que permitiram melhor aproveitamento dos recursos – por exemplo, permitindo a produção em áreas antes pouco afeitas à agricultura. É possível aumentarmos ainda mais a produtividade com investimentos em infraestrutura e nos processos referentes não apenas à produção, mas ao escoamento do produto.
Nos últimos anos, houve avanços na melhoria da qualidade das ferrovias, hidrovias, portos e, mais recentemente, até das estradas. Graças a investimentos nessas áreas, o custo de escoar a safra do centro tem caído – e as perspectivas de quedas ainda maiores são grandes.
Mas ainda há uma frente que, até recentemente, foi quase sempre ignorada e, se atacada, pode melhorar ainda mais a eficiência logística para a cadeia produtora: a redução da burocracia nas estradas brasileiras. Quanto mais rapidamente retirarmos os entraves burocráticos que tiram agilidade e aumentam os custos do transporte de cargas, mais ganhos para o país.
Um exemplo é um projeto de lei que pode aumentar a eficiência do transporte de cargas no Brasil a um custo muito menor do que duplicar uma rodovia. Trata-se da criação do Documento Eletrônico de Transporte (DT-e). O DT-e promete ser uma solução para reduzir a burocracia no setor de transporte de cargas, diante da inacreditável quantidade de documentos que um caminhoneiro precisa emitir e carregar durante o trajeto que percorre. Dependendo da carga transportada, estamos falando de dezenas de documentos diferentes.
O excesso de documentos não gera como inconveniente apenas a existência de uma pasta lotada de documentos no porta-luvas do caminhão. Obviamente, os impactos são mais perversos. A começar pela emissão deles, que toma um tempo do motorista, que poderia ser usado para agilizar o transporte. Além disso, ao longo do trajeto, são inúmeras paradas para a fiscalização dos documentos. A impressão desses documentos também demanda das empresas uma montagem de uma equipe de colaboradores que acaba elevando o custo da cadeia logística.
O DT-e é eletrônico e tem como propósito a unificação de todos os documentos envolvidos no transporte de cargas, incluindo obrigações de órgãos diversos, como Ibama, Anvisa ou Ministério dos Transportes. O DT-e também agrega o monitoramento do veículo durante a viagem – evitando a sua parada sem necessidade. E, por fim, pode finalmente eliminar a carta-frete, agilizando o pagamento ao prestador de serviço e trazendo o setor inteiro para conformidade com regulamentação sobre meios de pagamentos de frete e pedágio.
Em uma frase, o DT-e vai aumentar a segurança, incentivar a formalização do negócio, melhorar o controle e fiscalização sobre os veículos e prestadores de serviços e, de quebra, vai reduzir custos e agilizar o transporte.
O projeto de criação do DT-e chegou à Comissão de Viação e Transportes da Câmara no ano passado. Recentemente, o Ministério dos Transportes passou a atuar de forma proativa para sua aprovação – gesto que deve ser elogiado pelo setor.
Num mercado “commoditizado” como o agro, ou seja, de margens baixas, competitividade é fundamental. Qualquer custo que possamos reduzir é fundamental. Afinal, o preço do milho, da soja, do frango, da carne e outros produtos são dados pelo mercado internacional.
Cabe ao produtor encontrar as maneiras de ter um produto a um custo que seja minimamente competitivo. Mas contamos com o setor público para retirar os entraves que limitam um crescimento maior do setor. Quanto menor o custo, maior a parcela de riqueza que fica com o produtor e demais atores envolvidos no processo. O país inteiro sai ganhando.
Se tirarmos os entraves burocráticos que encarecem a produção, o país estará posicionado para aproveitar a demanda a ser gerada nos próximos anos com o aumento populacional e crescimento da classe média em países emergentes. E, assim, o agronegócio continuará sendo o carro-chefe da economia brasileira.
- Charlie Conner é Presidente da Sotran Logística, uma das principais logtechs e plataformas de logística que está reinventando a logística no Brasil ao abrir o caminho digital para um futuro melhor dos caminhoneiros com a plataforma TMOV. Conner foi co-fundador e co-head da operação da Arlon Group, fundo de private equity norte-americano, no Brasil. Possui MBA, CFA e um Fulbright Fellow em economia.
Assessoria de Imprensa
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Fonte: cargonews.com.br