Valter Casarin
Muitas vezes nós temos dificuldade de acompanhar a quantidade de novos termos que são criados. Ouvimos, mas não entendemos do que se trata. Um termo que está na moda é o da economia circular. A Nutrientes para a Vida irá abordar sobre esse tema e explicar de que forma pode ser importante em nosso dia-a-dia.
A economia circular é um conceito surgido na década de 1970. É baseado na criação de novos ciclos de valor positivo cada vez que o material ou produto é usado ou reutilizado antes da destruição final. Em outras palavras, enfatiza estender a vida útil dos produtos, reutilizando e reciclando componentes, permitindo aumentar a eficiência no uso dos recursos e diminuir o impacto no meio ambiente.
Face aos novos desafios ambientais, ao emprego e ao aumento da população mundial, o consumo de nossa sociedade atinge seu limite. As nossas retiradas de recursos naturais já ultrapassam largamente a biocapacidade da Terra, ou seja, sua capacidade de regenerar recursos renováveis, fornecer recursos não renováveis e absorver resíduos.
A conscientização coletiva tem permitido dar passos para reduzir os impactos ambientais, que são um primeiro passo essencial. No entanto, reduzir o impacto do modelo de desenvolvimento atual apenas atrasa o prazo. É necessária uma abordagem mais ambiciosa. A economia circular concretiza o objetivo de passar de um modelo de redução de impactos para um modelo de criação de valor positivo a nível social, econômico e ambiental.
Como nos ecossistemas naturais, este sistema de produção requer o mínimo de recursos possível, e material e energia não são perdidos nem desperdiçados. O que pode ser considerado resíduo na economia linear, cuja única saída é ser enterrado ou incinerado, pode – na economia circular – ter várias outras vidas.
Por exemplo, é a possibilidade de um fabricante de tapetes disponibilizá-los aos seus clientes (para venda ou aluguel) sob condição de devolução após x anos e substituição por um novo! O material assim recuperado é reintegrado no processo de fabricação.
Graças à crise econômica e ao surgimento das redes virtuais, a lógica de reutilização e agrupamento de recursos (revender ou dar em vez de jogar fora) está se desenvolvendo entre os consumidores, como evidenciado pelo boom na economia colaborativa. Fonte de valor econômico, de acesso generalizado do consumidor à satisfação das suas necessidades e criadora de laços sociais, faz parte do “ciclo” da economia circular.
Outro bom exemplo pode ser a nossa urina de cada dia. Quem nunca ouviu falar da urina como “o melhor fertilizante”? Quem nunca foi aconselhado por um jardineiro a regar parte de suas plantações? Se é muito cedo para falar em “novo ouro verde”, a urina ainda está em vias de adquirir um novo estatuto. Passar do desperdício ao do recurso para encontrar-se no centro da transição ecológica. A urina que cada um de nós produz, à taxa de litro e meio por dia, contém nitrogênio, fósforo e potássio, três nutrientes essenciais para a agricultura. Foi esquecido, mas no século 19, foram os efluentes dos parisienses que, graças a um sistema de coleta, fertilizaram os campos da coroa parisiense. Essa economia circular desapareceu no século seguinte com a generalização do esgoto e o advento da química e dos fertilizantes sintéticos.
Ambientes com uma quantidade limitada de recursos são os mais propícios à inovação na economia circular. Foi assim que Ellen MacArthur começou a se interessar por este tema, sendo uma grande velejadora e tendo que otimizar o uso e a escolha dos recursos para levar em suas longas travessias. Agora, não é surpresa que a NASA também tenha interesse em desenvolver a economia circular, com o estudo de uma tecnologia que permita a criação de fertilizantes em nossos banheiros. Pesquisadores da NASA planejam usar uma máquina construída na Universidade do Sul da Flórida que extrai nutrientes de dejetos humanos e testa sua eficácia em uma simulação no espaço.
Empresas de diversos setores, inclusive de fertilizantes, já se mobilizam para desenvolver novos modelos circulares de agricultura, reciclando nutrientes – de resíduos urbanos, agrícolas e industriais – em fertilizantes de alta qualidade por meio de processos de produção existentes e localmente por meio de recuperação, transformação e a distribuição.
O objetivo é criar uma cadeia de valor “da alimentação à agricultura”, recolhendo os excedentes alimentares nas cidades para os transformar em fertilizantes. Limitar o esgotamento dos recursos globais e a perda de nutrientes, promovendo a reciclagem de nitrogênio e fósforo, entre outros, é uma questão importante. Desta forma, o setor de fertilizantes estará contribuindo para a nossa ambição de alimentar o mundo de forma responsável e proteger o planeta.
Com objetivo de melhorar a percepção da população em relação às funções e os benefícios dos fertilizantes, foi estabelecida no Brasil, em 2016, a iniciativa Nutrientes Para a Vida (NPV). A NPV possui visão, missão e valores análogos aos da coirmã americana, a Nutrients For Life. Sua principal missão é destacar e informar a respeito da relevância dos fertilizantes para o aumento da qualidade e segurança da produção alimentar, colaborando com melhores quantidades de nutrientes nos alimentos e, consequentemente, com uma melhor nutrição e saúde humana.
Valter Casarin é engenheiro agrônomo e coordenador científico da iniciativa Nutrientes para a Vida (NPV)
Assessoria de Imprensa
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Fonte: cargonews.com.br