A Organização Marítima Internacional (OMI) se reúne em Londres para discutir medidas que viabilizem as metas de redução de emissões de carbono para o setor de transporte marítimo nas próximas décadas; propostas para reduzir a velocidade máxima de grandes embarcações e agilizar a operação nos portos devem ser debatidas
Esta semana, a Organização Marítima Internacional (OMI) se reúne em Londres para discutir estratégias de ação para tirar do papel as metas de redução de emissões de gases de efeito estufa do setor de transporte marítimo para as próximas décadas. Em abril passado, os países membros da organização definiram que as emissões associadas às atividades do setor deverão ser reduzidas em 40% até 2030 com relação aos níveis de 2008, sendo que em 2050 essa redução deverá atingir 70%.
Dentre as medidas que devem ser discutidas pela OMI no encontro deste mês, está a definição de velocidades máximas obrigatórias de operação aos navios de grande porte, como porta-contentores, cargueiros e navios-tanque. Estudos apontam que a redução da velocidade máxima (também conhecida como slow steaming) desse tipo de embarcação poderia cortar em 1/3 as emissões de carbono do setor, já que a queima de combustível é reduzida na medida em que a velocidade dos navios diminui. Essa redução das emissões seria o equivalente ao fechamento de 82 usinas termelétricas a carvão, um dos tipos mais poluentes de unidade geradora de eletricidade.
Cerca de 30% da frota mundial é formada por grandes navios que transportam contêineres, grãos, petróleo, gás liquefeito, cruzeiros e cargueiros. No entanto, eles são responsáveis por 75% das emissões de carbono de todo o setor de transporte marítimo. Por isso, a proposta em discussão na OMI enfatiza a definição de limites de velocidade para essas embarcações maiores. Navios menores (como ferries) e do tipo frigorífico (pela natureza de sua carga) não sofreriam essa limitação de velocidade.
Um levantamento recente realizado pela CE Delft para as ONGs Seas at Risk e Transport & Environment (T&E) indica que a economia cumulativa potencial resultante apenas do slow steaming em embarcações de grande porte pode ser de até 12% do total máximo de emissões que o setor de transporte marítimo pode liberar (o chamado “orçamento de carbono”) no contexto do objetivo do Acordo de Paris de conter a elevação da temperatura média terrestre em até 1,5 grau Celsius ao longo deste século. O estudo também conclui que os custos potenciais do slow steaming podem ser compensados com a redução do consumo de combustível, que é o principal gasto operacional do setor.
A redução da velocidade permite cortar emissões na frota marítima atual sem a necessidade de realizar modificações nas embarcações, algo interessante do ponto de vista operacional, já que as embarcações comerciais têm um ciclo de vida entre 25 e 30 anos de atividade. Assim, ela não requer nenhum investimento de entrada em novas infraestruturas ou tecnologias.
Outro argumento importante em favor da redução de velocidade dos grandes navios é a diminuição da poluição sonora subaquática e do número de colisões com baleias e golfinhos. “A poluição sonora gerada pelos navios nos oceanos eleva os níveis de hormônios relacionados ao estresse nas baleias, o que pode impactar sua capacidade de se reproduzir e afetar seus sistemas imunológicos”, explica Regina Asmutis-Silvia, diretora da Whale and Dolphin Conservation North America. “Além disso, os choques entre embarcações e baleias e golfinhos são bastante frequentes, especialmente no Atlântico Norte, tornando essas espécies ainda mais vulneráveis em alto-mar. Velocidades reduzidas nas embarcações podem diminuir esse tipo de incidente, o que ajudar na recuperação natural das populações de baleias e golfinhos nos oceanos”.
No entanto, parte da indústria ainda resiste a esse tipo de medida. Para Bill Hemmings, da T&E, essa resistência torna a nova rodada de conversas na OMI ainda mais desafiadora. “A Câmara Internacional de Transporte Marítimo [ICS, sigla em inglês], que é o órgão representante da indústria, é abertamente contrária a todas as medidas de redução de emissões apresentadas até o momento, incluindo metas obrigatórias de redução, a necessidade de reforçar padrões de design ou melhoria da eficiência operacional”, aponta Hemmings. “Mas a própria experiência prática desmente tudo isso e mostra que o slow steaming funciona”.
“Uma nova regulação para limitar a velocidade dos navios é fundamental para que a estratégia de redução de emissões da OMI funcione”, afirma John Maggs, da Seas at Risk e presidente da Coalizão do Transporte Marítimo Limpo (CSC, sigla em inglês). “Apenas a redução da velocidade das embarcações pode cortar as emissões de carbono do setor de maneira rápida e profunda, em sintonia com os objetivos do Acordo de Paris. Isso é essencial para a descarbonização do setor, já que preserva o orçamento de carbono do transporte marítimo e nos dá mais tempo para desenvolver soluções de longo prazo”.
Outras medidas também estão sobre a mesa dos negociadores da OMI nesta semana, como a implementação de operações marítimas just-in-time, com o objetivo de reduzir o tempo gasto pelos navios na espera para atracar nos portos. Hoje, as embarcações chegam a esperar dias nos arredores dos portos aguardando a liberação do ancoradouro para embarcar ou desembarcar mercadorias.
De acordo com estudos realizados pela Aliança Global da Indústria (GIA), uma coalizão de atores públicos e privados no âmbito da OMI, as emissões de carbono dos navios também podem ser reduzidas se os navios tiverem um sistema para atualizações regulares sobre a disponibilidade para atracar no porto de destinação, especialmente nas últimas 12 horas antes da chegada da embarcação. Isso também permitiria reduzir a velocidade dos navios, otimizando o gasto de combustível e diminuindo as emissões decorrentes de sua queima. Atualmente, o GIA está investigando possíveis barreiras operacionais e contratuais à implementação de operações just-in-time para identificar medidas que podem ser tomadas por todos os stakeholders (navios, autoridades portuárias, operadores de terminais, entre outros) para viabilizar esse modelo.
O engajamento ativo do segmento de transporte marítimo é estratégico para o sucesso de qualquer iniciativa para conter a mudança do clima em todo o mundo. Em 2015, último ano com dados contabilizados pela OMI, o transporte marítimo internacional liberou mais de 810 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2), principal gás de efeito estufa, na atmosfera terrestre, o que representou 2,25% de todas as emissões decorrentes de atividades humanas naquele ano. Se esse setor fosse um país, suas emissões de CO2 o posicionariam na 6ª colocação entre os maiores emissores de gases de efeito estufa do planeta, comparável à Alemanha. Com o crescimento previsto da frota e a intensificação do comércio internacional nas próximas décadas, estima-se que as emissões do setor cheguem a 3,5 bilhões de toneladas de CO2 em 2075, segundo números do Conselho Internacional do Transporte Limpo (ICCT, sigla em inglês).
A reunião do Comitê de Proteção Ambiental Marítima da OMI acontecerá até o dia 26 de outubro em Londres, no Reino Unido.
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