Estudo identificou mais de 200 plantas nativas do Cerrado capazes de retirar níquel do solo.
Plantas hiperacumuladoras podem ajudar a retirar o metal do solo para descontaminá-lo (fitorremediação).
Elas também podem ser meio mais acessível para obter metais de interesse econômico (fitomineração).
Potencial dessas espécies foi descoberto durante estudo em região mineradora em Goiás.
Parceria com mineradora está permitindo recuperação de área com uso de espécies da região.
Pesquisadores da Embrapa identificaram no Cerrado goiano 19 espécies vegetais com capacidade de absorver grandes quantidades de níquel (Ni) e acumulá-lo em suas folhas e caules. Reconhecidas como hiperacumuladoras de níquel, elas conseguem acumular em seus tecidos grande quantidade desse metal, mais de 0,1% (ou mais de 1.000 mg de Ni/kg de matéria seca).
Segundo a pesquisadora da Embrapa Cerrados (DF) e coordenadora do projeto, Leide Andrade, as espécies têm potencial para uso na fitorremediação de níquel em solos contaminados com esse metal, em regiões industriais ou agrícolas. Esse processo nada mais é do que o cultivo de plantas que descontaminam os solos com excesso desse elemento químico à medida que o acumulam em suas próprias estruturas.
Elas também podem ser cultivadas em solos já minerados, mas que ainda contêm níveis de níquel que o processo de mineração convencional não consegue extrair. Leide explica que esses resultados são preliminares e que a pesquisa deve continuar para conhecer melhor a ação desse mecanismo.
A descoberta do potencial dessas plantas foi feita durante pesquisa que buscava identificar espécies para serem utilizadas na revegetação de áreas alteradas pela mineração na região ultramáfica de Barro Alto (GO), local com importantes depósitos de níquel. O trabalho resultou no registro de mais de 200 espécies capazes de crescer em ambientes com alto teor de metais no solo, como níquel, magnésio, manganês, cromo, ferro, cobalto, entre outros.
A pesquisa foi realizada a partir de uma demanda da mineradora que atua no estado, a Anglo American, que buscava soluções para elevar o padrão de qualidade da recuperação dos ambientes remanescentes da lavra da mineração de níquel e as pilhas de material estéril (material retirado da mina para liberar o minério, sem valor econômico). Hoje, a legislação exige que essas áreas sejam revegetadas, mas não define o tipo de cobertura vegetal que deve ser usado.
A empresa solicitou à Embrapa que fizesse um levantamento da flora local com o objetivo de avaliar o impacto da mineração na diversidade vegetal (supressão da vegetação) e definir estratégias para revegetação de áreas impactadas pela mineração utilizando as espécies nativas nesse processo.
Entre as mais de 200 espécies identificadas na região do estudo com tolerância a níveis elevados de metais no solo, 29 foram selecionadas por sua abundância e capacidade de colonizar ambientes alterados. Essas espécies herbáceas e arbustivas foram usadas para compor um protocolo tecnológico para revegetação de taludes de pilha de material estéril de mineração de níquel, no qual foram definidos o período de colheita das sementes, a melhor época e técnicas para plantio.
Entenda a fitorremediação e a fitomineração
Espécies nativas e tolerantes a ambientes ricos em metais podem ser usadas em processos fitotecnológicos (ou tecnologia verde) para estabilizar áreas degradadas pelas atividades de mineração (taludes de pilha de estéril, fundo de cavas, áreas de aterro etc.).
No caso das espécies hiperacumuladoras de metais, elas podem atuar no processo chamado de fitorremediação, com o qual é possível “limpar” o solo à medida que as plantas extraem os elementos que estão presentes em níveis elevados e os acumulam em seus tecidos de seus caules e folhas.
Dessa forma, é possível evitar problemas ambientais, como a contaminação de lençóis freáticos e cursos d’água, além de permitir que outras espécies consigam se desenvolver melhor nessas áreas.
Um segundo processo que se beneficia do uso das plantas hiperacumuladoras é a fitomineração para a obtenção de metais de interesse econômico (raros ou preciosos, como o níquel) cuja mineração seria antieconômica pelos métodos convencionais. No caso do níquel, seu cultivo é feito em solos já minerados ou com minério com baixo teor do metal de interesse, mas que ainda contêm níveis elevados do metal em relação a solos não mineráveis, que para o processo de mineração tradicional seria antieconômico ou inviável pelos métodos convencionais.
Os substratos das pilhas de material estéril têm pouca matéria orgânica e baixa atividade microbiológica e são pobres em nutrientes importantes para o desenvolvimento das plantas (leia quadro). Eles ainda contêm altos níveis de cromo na forma CrVI. “Essas características são desfavoráveis à vida e impedem que ocorra uma recuperação biológica espontânea desses ambientes”, explica a pesquisadora da Embrapa. Por outro lado, a vegetação nativa que cresce sobre solos ultramáficos (dos quais se extrai o minério de Ni) é mais adaptada a esse ambiente e por isso apresenta maior tolerância à presença de metais em níveis elevados no solo. “Com a revegetação dos taludes de pilha de estéril, é possível manter essas espécies no ambiente e reduzir os impactos da atividade de mineração na biodiversidade local”, declara a cientista.
Mais Informações – https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/56493313/pesquisadores-identificam-plantas-capazes-de-extrair-niquel-do-solo?link=agencia
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Fonte: cargonews.com.br