Fórum Brasil Export realiza encontro virtual com o setor de logística para discutir as vantagens da combinação logística multimodal na região. O diretor presidente da VALEC Engenharia, Construções e Ferrovias S/A, André Kuhn, o secretário de Desenvolvimento Econômico do Estado de Goiás, Adonídio Neto, o presidente da ABIFER (Associação Brasileira da Indústria Ferroviária), Vicente Abate, e o diretor presidente e CEO da ABOL – Associação Brasileira de Operadores Logísticos, Cesar Meireles, participaram do evento mediado pelo presidente do conselho do Centro-Oeste Export, Edeon Vaz Ferreira
O setor de logística reuniu-se em exclusivo encontro virtual promovido pelo Fórum Brasil Export no último dia 16 de setembro para discutir as vantagens das plataformas logísticas – em específico a Plataforma Logística de Santa Helena de Goiás (GO) – para o desenvolvimento da região Centro-Oeste. O webinar teve como palestrantes o secretário de estado de Indústria, Comércio e Serviços de Goiás, Adonídio Neto Vieira Júnior; o diretor presidente da Valec, André Kuhn; o diretor presidente e CEO da ABOL e conselheiro do Brasil Export, Cesar Meireles, além do presidente da ABIFER, Vicente Abate, com a mediação do presidente do conselho do Centro-Oeste Export, Edeon Vaz Ferreira.
Entre os palestrantes, um consenso: as plataformas logísticas têm importância estratégica, funcionando como dínamos a adensar as cadeias logísticas de valor e acelerar o processo de equalização da matriz de transporte, de modo a extrair de cada modal sua plena excelência.
Na abertura do encontro, Kuhn relatou que a empresa tem como papel primordial o fomento da ferrovia no Brasil. “Sabemos, entretanto, que trilho lançado não basta para garantir o transporte de cargas; precisamos investir também em portos secos, em terminais, em multimodalidade”, opinou.
O dirigente da Valec argumentou que os investimentos em infraestrutura ferroviária têm características específicas, como grandes volumes, por exemplo, de acordo com os estudos já bastante aprimorados e em fase de viabilidade. “As restrições técnicas de uma ferrovia são mais rígidas do que as obras rodoviárias, além de exigirem um processo construtivo mais oneroso, uma vez que se tem a vencer a geografia da região para garantir um transporte eficiente. A título de ilustração, a obra da FIOL (Ferrovia de Integração Oeste-Leste), atualmente em etapa de construção, custa de R$ 6 a R$ 10 milhões por quilômetro em alguns trechos”, exemplificou.
Na visão de Kuhn, o momento favorece a ferrovia porque, independentemente da tradição que prioriza o investimento no modal rodoviário, o custo do transporte por caminhão elevou-se significativamente, em especial na movimentação de granéis. “Quando se oferece alternativas logísticas capazes de diminuir o custo, aumenta-se a competitividade do país, tanto no cenário interno quanto no internacional. Ademais, vale considerar os expressivos benefícios ao meio ambiente, pois a movimentação ferroviária não gera gases poluentes. A menor necessidade de manutenção das rodovias também pode ser apontada como favorável. Que não se pense, porém, em algum prejuízo ao caminhoneiro, que, na verdade, sai em vantagem, porque a aplicação do modal rodoviário se dá na sua melhor condição, em médias distâncias, com um transporte mais racional em termos logísticos, além do apoio de terminais de carga localizados em pontos adequados. Configura-se, assim, uma relação ganha-ganha”, avaliou ele.
O diretor da Valec confirmou a intenção de prosseguir com o projeto na plataforma logística de Santa Helena de Goiás. “Em 2019 aconteceu a subconcessão da Ferrovia Norte-Sul, cujos terminais ficaram a cargo da Valec: são 13 ao longo da ferrovia, vários dos quais em licitação, como o de Santa Helena. Sabemos que a população local se preocupa com a questão do investimento público na perna ferroviária de Santa Helena, da ordem de R$ 110 milhões, aporte que poderá trazer tranquilidade aos produtos agrícolas locais. Estamos dedicados a estudar a modelagem e os interesses da sociedade produtora da região, o que demonstra a importância de eventos como este, nos quais podemos nos aproximar dos stakeholders e escutar o que precisam”.
Presente ao encontro, o prefeito de Santa Helena de Goiás, João Alberto Rodrigues (PRP/GO), aproveitou a oportunidade para confirmar o compromisso do município, com cerca de 50 mil habitantes, para viabilizar de forma célere e efetiva os processos de consolidação da estrutura logística e atração de empresas, inclusive industriais. “A nossa ideia é trabalharmos com políticas fiscais que incentivem a vinda de empresas, aliadas à busca da implantação de um porto seco na cidade, situação que propiciaria todos os incentivos e benefícios em conjunto”.
O presidente da ABIFER, Vicente Abate, enfatizou também a importância da plataforma logística de Santa Helena de Goiás, pois os outros terminais ao longo da ferrovia permitirão capturar carga da região agrícola, viabilizando o escoamento via Arco Norte. “Essa ferrovia é um sonho do setor já há muito tempo, e quero crer que no próximo ano estará em plena operação, possibilitando a chegada ao porto de Santos sem interrupções, em uma bitola apenas. Saliento também que temos uma proposta do governo, por intermédio da EPL (Empresa de Planejamento e Logística S.A.), de atingirmos maior proporção na matriz de transporte, passando de 15% a 30% no intervalo de oito anos. Não se trata de roubar carga de outros modais, mas sim de equacionar de forma mais racional a combinação entre eles”.
Eurodelta e Zaragoza
Em sua participação, o diretor presidente e CEO da ABOL e conselheiro do Brasil Export, Cesar Meireles, apresentou a perspectiva do Operador Logístico diante das plataformas multimodais. “O Operador Logístico é, por gênese, um integrador de atividades logísticas, convergindo – e jamais competindo – na integração de todos os modais da cadeia logística de valor, ocupando-se da primeira à última milha”, descreveu.
Meireles citou exemplos selecionados da Europa para evidenciar a estratégica combinação de benefícios oferecidos pelas plataformas logísticas multimodais às regiões de influência. Ele salientou, no entanto, que o esforço para um desenvolvimento assim deve ser conjunto e ininterrupto.
“Há cinco anos, fizemos uma viagem à Europa para visitar a região chamada de ‘Eurodelta’, composta por Alemanha, Bélgica e Holanda (Vide artigo na Tecnologística: www.tecnologistica.com.br/portal/artigos/69748/missoes-internacionaisfarois-de-inovacao-em-logistica/). Esses três países, respeitadas, de forma bastante enfática, para não cometer um grave erro, as suas diferenças, poderiam ser comparados em termos de competitividade, com os estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás. Faço essa comparação bastante extrapolada, porque os três convergem para o crescimento do país, embora tenham na logística seu diferencial estratégico. Foi muito interessante escutar em reunião durante a viagem que os países do Eurodelta atuam em parceria, mesmo disputando cada grama de carga. Isso ocorre porque, para eles, a logística tem papel estratégico. Na minha percepção, logística, supply chain, tem valor absolutamente estratégico para Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás”.
O diretor presidente e CEO da ABOL citou ainda como paradigma de plataforma logística a cidade de Zaragoza, na Espanha. A combinação entre infraestrutura rodoviária e ferroviária de extrema qualidade, interligando as localidades a mercados estratégicos; a equidistância entre as duas costas marítimas (Atlântico ao norte e Mediterrâneo ao sul); o acesso fácil a quatro dos cinco maiores portos do país (Barcelona, Tarragona, Valencia e Bilbao) e as conexões expressas a oeste (Portugal) e a leste (França), atingindo com intensa capilaridade outros países, como a Suíça, Bélgica, Alemanha, Holanda e norte da Itália, além do norte da África por via aquaviária, fazem de Zaragoza um polo logístico cuja relevância transcende em muito as fronteiras espanholas.
“Os espanhóis respondem de forma contundente ao serem questionados sobre o motivo do sucesso de Zaragoza: ‘localização, localização e localização, isto é, logística!’. Eles se beneficiam da estrutura propiciada pela localização privilegiada, portanto, estratégica.
Além disso, contam com fácil acesso aos aeroportos mais relevantes do país – inclusive o hub aéreo de Zaragoza, adensando os volumes de cargas de diferentes naturezas, promovendo toda a cadeia logística de valor, evitando a ociosidade. Esse movimento sinérgico chamou a atenção da indústria em geral, que optou por se instalar-se na região, de modo a criar dinâmicas e sinergias próprias. O que era apenas uma plataforma logística tornou-se um conglomerado de clusters industriais e hubs de distribuição”, analisa Meireles.
Ele ressalta os fatores determinantes para a excelência conquistada. “A instalação de parques eólicos e uma central de inteligência tecnológica implantada na região são condições sine qua non para o êxito. Autonomia energética tem caráter estrutural em Zaragoza, na qual dispõe de importantes parques eólicos e solares. Adicionalmente, a criação de uma agência de desenvolvimento e fomento desponta como indutor imprescindível cooperando para o sucesso de Zaragoza. No caso espanhol, essa agência atua como um verdadeiro instituto avançado de logística em funcionamento para desenvolver inteligência e integração. Fica o exemplo a ser aplicado na região Centro-Oeste do país para produzir estudos convergentes capazes de potencializar a logística”, sugere Meireles, alertando que, no caso específico de Santa Helena de Goiás, a potencialidade logística extrapola a combinação rodovia-ferrovia. “É bom contemplar os outros potenciais que lá temos, como o modal aeroviário, por intermédio de terminais de carga, assim como a integração hidroviária, a ser buscada racionalmente. A plataforma logística revela-se, portanto, absolutamente fundamental para o desenvolvimento regional. Concretizada, provocará uma explosão de oportunidades para a região Centro-Oeste”.
Oportunidades
Quanto às oportunidades que o estado de Goiás pode disponibilizar, o secretário de estado de Indústria, Comércio e Serviços de Goiás, Adonídio Neto Vieira Júnior, agradeceu a participação no evento e informou que, com os investimentos já em curso, espera que já em 2021 se possa perceber uma mudança nos modais. “Teremos a inauguração de duas plataformas ou terminais de transbordo, em São Simão e em Rio Verde, além de áreas dedicadas a operações com contêineres em Anápolis. Santa Helena de Goiás e Rio Verde devem redesenhar a realidade da região, pois são os pontos de maior desenvolvimento no estado”, disse.
Goiás vem sendo desafiado pelo sistemático crescimento da produção agrícola, a pressionar os sistemas de escoamento. A administração regional, contudo, encara a situação como uma oportunidade ímpar de atrair empresas dedicadas à operação logística e indústrias, que ocasionarão maior diversidade no mix de cargas em trânsito. Nesse cenário, as plataformas logísticas ganham ainda maior relevância.
“A safra no estado de Goiás cresceu 15,6%, levando-nos à posição de terceiro maior produtor de grãos do país, com 27,5 milhões de toneladas. Nossa participação nas exportações brasileiras deste ano chegou a 4,04%. Teremos uma safra ainda maior, com a consequente intensificação das demandas para granéis – ou seja, aumentará em muito a pressão por soluções logísticas eficientes. Estamos trabalhando também para atrair o setor industrial, com a oferta de vários benefícios fiscais e tributários, bem como mão de obra qualificada para as indústrias dispostas a se instalarem aqui. Precisamos aproveitar as sinergias criadas por essa plataforma”, revelou o secretário.
Corredores logísticos
Ao final do encontro, o especialista em regulação e conselheiro do Brasil Export, Mario Povia, propôs que se discuta sobre os corredores logísticos. “Sugiro pensar não apenas em um modal, e sim em extensões logísticas que venham aproveitar todos os existentes.
Haveria a possibilidade de pensar em corredores logísticos multimodais?”, provocou.
Meireles prontificou-se a celebrar a assertividade da proposta do colega, apontando o caráter deveras problemático da fragmentação do investimento em infraestrutura logística. “Por hábito, dizemos ter um país rodoviarista, mas, considerando-se o porte continental do Brasil, verifica-se uma densidade rodoviária muito baixa. Isso não significa que devemos deixar de investir no plano rodoviário, mas não podemos fazê-lo sem também aplicar recursos nos planos ferroviário, hidroviário e de cabotagem. Povia abordou o tema de maneira perfeita. A criação de corredores tem valor estratégico.
Para tanto, precisamos de uma matriz de origem e destino muito apurada. Para o desdobramento dessa política, com a efetiva identificação dos locais de maiores oportunidades e os mapas de calor das cadeias produtivas como instrumento para uma assertiva sugestão dos investimentos, faz-se necessário ter clareza sobre os pontos de origem e destino de cargas. Nisso ainda pecamos, pois ainda não temos esses dados com o rigor que precisaríamos ter”, concluiu o diretor presidente e CEO da ABOL.
Assessoria de Imprensa
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Fonte: cargonews.com.br