Por Mario Hime
Lousa digital, “gamificação”, EAD (Ensino à Distância) e mesa interativa, assim como tablets e celulares, não são exatamente novidades quando pensamos em Educação nos dias de hoje, em plena “Era Digital”. Isso porque, nos últimos anos, instituições de ensino, no Brasil e no mundo, têm se utilizado da tecnologia para buscar novas formas de tornar o conteúdo dos cursos mais interessantes e captar a atenção dos alunos.
Em países como a Finlândia e Coreia, a digitalização do ensino – seja pelos novos modelos de negócios, seja por novos modelos de pedagogia e didática de ensino – já é uma realidade madura, se compararmos com o caso brasileiro. Desde 2016, em escolas da Finlândia, deixou de ser compulsório o ensino de escrita à mão em favor da digitação, apesar de estudos indicarem que a escrita à mão ajuda a fixar mais informações. Mesmo em outros setores da economia, a exemplo do setor financeiro, essa nova lógica orientada pelo Digital já é a majoritária.
Mas, no Brasil, muito embora, principalmente no nível Básico, os principais influenciadores do modelo de ensino – pais e professores – ainda estejam focados em uma dinâmica mais conservadora, onde o objetivo do ensino é preparar para o vestibular, o nascimento de startups como Coursera, Duolingo, EduK, Alura, Veduca, descomplica, Qranio, dentre tantas outras, só corrobora que a transformação digital no setor da Educação é um processo irreversível – e apenas uma questão de (pouco) tempo. Dados apontam para um avanço significativo da adoção da tecnologia em sala de aula nos próximos cinco anos.
Esse cenário é animador na medida em que revela não só que a Educação está mudando – e de que é possível envolver o aluno e tornar o conteúdo da sala de aula mais agradável e acessível –, mas de que a tecnologia tem viabilizado algo ainda mais extraordinário: o empoderamento do aluno. Inserido em um novo ambiente, ele é estimulado por uma dinâmica que quebra paradigmas de um aprendizado secular, em que apenas permanecia sentado e ouvia o professor, que era o único responsável por propor os temas centrais de discussão. Neste novo cenário, o estudante não apenas se torna mais participativo nas aulas, mas também vira protagonista de seu próprio aprendizado, uma vez que o interesse despertado o faz vir à aula mais motivado e com novas ideias trazidas de fora para dentro da escola.
Um exemplo poderoso de educação inovadora é a School of One, escola localizada em Nova York (EUA) que utiliza a tecnologia para ajudar no processo de individualização do ensino. Com o uso constante de computadores e tarefas individualizadas, os professores conseguem monitorar e colocar os alunos em níveis mais avançados à medida que suas habilidades forem consolidadas. A transformação digital aplicada à área de Educação coloca, enfim, o aluno no centro e traz uma nova dinâmica aos meios de aprendizagem, apoiada por recursos e plataformas tecnológicas.
Desafio maior na Educação Pública
O ponto crucial é que, até aqui, o cenário descrito contempla, basicamente, as instituições privadas de ensino. Se pensarmos na realidade das instituições públicas, a transformação digital é tida ainda quase como uma utopia. Não que não haja algumas iniciativas isoladas interessantes e exemplares. Entre vários exemplos, no município de São Gonçalo do Amarante (RN), a secretária de educação inseriu mesas digitais no contexto pedagógico, para o ensino de português, inglês, história, geografia. Mas são “exceções da regra”.
Dentre os “GAPs” na transformação digital para a educação pública, a disponibilidade de tecnologia é um entrave. Muitas cidades brasileiras até pouco tempo atrás não tinham sequer conectividade. Imaginemos então que essa realidade não seria muito diferente dentro de uma sala de aula. Mas, infelizmente, os investimentos mais urgentes e necessários dizem respeito à própria infraestrutura das escolas, à melhoria das merendas, para citar apenas alguns fatores preponderantes no impedimento dessa “disrupção” pelo digital na educação pública.
O fato da maioria da população estar no ensino público é em grande escala um impeditivo para um avanço mais rápido da transformação digital na Educação. Estima-se que cerca de 86% das crianças e jovens estudem em escolas públicas (pré-escola, ensino fundamental e ensino médio). Pensando em como as instituições privadas têm os meios e as oportunidades para implementação dessa disrupção, o que se pode dizer é que o crescimento da transformação digital é um sinônimo de abismo entre ensino público e privado. Pelo menos por enquanto.
*Mario Hime, vice-presidente da Cosin Consulting Linked by Isobar
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